8.4.07

O fantástico com os pés no chão


Gustavo Coltri Skrotzky

Não se engane pela primeira impressão. "Ponte para Terabítia" (2007) não é uma das tradicionais produções da Disney, quase sempre carregadas de uma ingenuidade constrangedoramente artificial, mas uma história de fantasia dramática, o que dificulta sua classificação como um filme essencialmente infantil. Trata-se de uma obra sobre a passagem pela infância, retratada em boa parte de suas nuances, das brigas entre irmãos às paixões platônicas pela professora.

O longa chega aos cinemas trinta anos depois da cultuada publicação do livro homônimo de Katherine Paterson. A adaptação para o cinema aconteceu por intermédio do filho caçula da autora, David, a quem o texto original foi dedicado como consolo às dores geradas pela perda de uma grande amiga.

"Ponte para Terabítia" revela a história de um tristonho e introspectivo menino chamado Jess (convincente interpretação de Josh Hutcherson), um promissor desenhista que tenta subjugar o desprezo dos colegas de escola por meio de vitórias nas corridas das aulas de educação física. As aspirações do garoto interiorano acabam frustradas depois da chegada da imaginativa e veloz Lesley à cidade (Anna Sophia Robb), que o supera na mais recente prova de atletismo. A antipatia inicial pela menina, que mora na casa ao lado, é compartilhada pelos outros estudantes, não muito acostumados ao estilo moderno de gente de cidade grande.

Em pouco tempo, entretanto, a repulsa das outras crianças por ambos acaba por uni-los numa grande amizade, resguardada na criação de uma terra imaginária situada na floresta próxima à casa dos dois. Lá eles transformam-se em reis, prontos para lutar com criaturas horrendas pela libertação do território, sob o domínio do mal. Na vida cotidiana, Jess usa a inspiração do mundo fantástico, batizado de Terabítia, para enfrentar as dificuldades de uma infância sem luxos, de um pai pouco amoroso e de perseguições na escola.

Curiosamente, o principal defeito do filme é a forma com que ele se apresenta ao público, com uma campanha publicitária forçadamente apoiada no blockbuster "As Crônicas de Nárnia", de 2005. Ainda que o livro de Paterson tenha declarada inspiração no best-seller de C.S. Lewis, os pontos em comum entre a obras cinematográficas são bem menores do que um olhar apressado pode sugerir. E, ao contrário do que o trailer leva a crer, alardeando produtores e estúdios comuns entre os longas, esse não é um subproduto das aventuras dos irmãos Pevensie. É, na verdade, um singelo relato de como a imaginação pode ser fonte de vigor para os enfrentamentos dos problemas da infância.

"Ponte para Terabítia" é o primeiro e acertado filme live-action do húngaro Gabor Csupo, que já demonstrou talento como criador do desenho animado "Rugrats”, mostrando o ponto de vista de bebês sobre acontecimentos cotidianos.

A fotografia esmaecida e os poucos efeitos especiais fogem ao estilo normalmente empregado em produções desse tipo, que primam pela riqueza visual. A opção, ainda que arriscada pelo menor apelo estético junto às crianças, é apropriada, acentuando uma dualidade entre a crueza do mundo real e a magia da atividade imaginativa. A trilha sonora também atenua pieguices e confere maior atualidade à história, intercalando músicas orquestradas e canções populares.

Trata-se, enfim, de uma obra que retrata os desafios de crescer, um filme que revela a forma com que os pequenos, de olhos fechados e mentes abertas, superam os eventuais contratempos e tristezas da vida. Com toda a inocência, claro.

Um comentário:

jrmacedo disse...

Ponte para Terabítia é um dos filmes mais perfeitos qe ja vi, como vc fala, não são os efeitos especiais qe fazem o seu público se apaixonarem pelo filme, e sim sua belíssima história, e a atuação perfeita dos pequenos atores, como também o final trágico qe conseguiu comover a todos. Parabéns, é uma execelente notícia. Quem também gostar do filme e quiser compartilhar algumas idéias, podem me add no msn: clijunior7@hotmail.com